Amendoim: Hábito de crescimento, padrão de ramificação e ciclo

Agronomicamente, as plantas de amendoim podem ser divididas em grupos de acordo com o seu hábito de crescimento. Em geral, um programa de melhoramento genético deve traçar como objetivo “a priori” a seleção de plantas que se enquadrem em um desses grupos, dependendo das condições da região ou sistema de produção para os quais os cultivares serão recomendados.

Plantas de porte ereto e ramificação sequencial (tipos Valência e Spanish) são as mais adaptadas para pequenos agricultores ou sistemas de produção em que pelo menos parte das operações de cultivo é manual. São indicadas também para ambientes em que o ciclo das plantas, do plantio à colheita, não deve ultrapassar 100 dias. O ciclo curto por si só favorece a sobrevivência das plantas, como no caso de regiões em que a extensão da estação de cultivo é limitada por baixas temperaturas ou por estiagem, ou como escape a doenças foliares que ocorrem no final do ciclo.
A ramificação sequencial faz com que a maioria das vagens se localize próxima à base da planta, facilitando o despendoamento manual, na colheita.

Para sistemas mais tecnificados, e onde a extensão do ciclo vegetativo não seja um aspecto limitante, as plantas de porte rasteiro são as ideais, pois trazem consigo uma série de características favoráveis, entre elas a melhor adequação para a operação mecanizada de arranquio e enleiramento (inversão das plantas na linha). Outra vantagem é o seu maior potencial produtivo, como será comentado adiante.

Uma característica (pouco estudada) que acompanha o tipo vegetativo é a textura e flexibilidade dos ramos. Plantas dos tipos Valência e Spanish tendem a apresentar ramos mais grossos, lenhosos e quebradiços (quando secos). Em plantas rasteiras (Virginia runner) ou arbustivas (Virginia bunch) os ramos são mais finos e flexíveis.

O hábito de crescimento é um caráter geneticamente complexo e controlado por genes nucleares e citoplasmáticos. Alguns estudos mostraram que a herança é condicionada por oligogenes e por genes modificadores localizados ou não no citoplasma. A herdabilidade é relativamente alta em cruzamentos envolvendo genitores de porte rasteiro e ereto, e a característica é fixada em grande parte logo nas primeiras gerações de seleção. Em cruzamentos de plantas rasteiras com eretas pode-se esperar uma tendência para dominância dos tipos rasteiros.
Pela influência do citoplasma, há um efeito materno nas populações segregantes, ou seja, maiores ou menores proporções de plantas de um tipo ou outro, dependendo da direção do cruzamento. Assim, por exemplo, se o objetivo for a seleção de plantas rasteiras, é recomendável, nos cruzamentos, utilizar os genitores rasteiros como os femininos.

Padrão de ramificação
A caracterização agronômica utiliza o padrão de ramificação como um descritor, dividindo os cultivares em dois grupos segundo esta característica: alternada ou sequencial, podendo-se admitir um terceiro grupo, irregular (ou mesclado).
Taxonomicamente, as variedades botânicas (em especial, as de maior interesse agronômico) evoluíram para um desses dois grupos. As plantas de ramificação alternada (os tipos Virginia) distribuem a sua produção de vagens ao longo dos ramos primários e também dos secundários. Em cada ramo primário, algumas gemas se diferenciam para formar um ramo secundário ao invés de uma inflorescência. O efeito disto é uma planta mais ramificada do que as de ramificação sequencial (tipos fastigiata e vulgaris) e que necessita de um ciclo mais longo para formar a sua produção de vagens. As de ramificação sequencial possuem muito poucos ramos secundários, e a sua produção de vagens é formada quase que toda ela nos ramos primários. Nestes, desde a sua base, as gemas são reprodutivas, com apenas um ou outro ramo secundário, de pouca relevância em termos de produção de vagens. Como consequência, as plantas têm uma arquitetura mais rala ou esparssa, e a maioria das vagens é concentrada próxima à base da planta e no eixo principal. Com isso, o período de formação de vagens e maturação se dá em tempo mais curto.

Amendoim tipo rasteiro

Amendoim tipo ereto

É possível, através de cruzamentos, obter tipos intermediários, ou com padrão irregular quanto a esta alternância ou sequencialidade das gemas reprodutivas. Entretanto, essas plantas geralmente não possuem bons atributos agronômicos. Ou seja, as melhores chances no melhoramento estão na seleção para um ou outro tipo.
Ao longo do tempo, os programas de melhoramento recorreram a cruzamentos entre tipos ou subespécies (hypogaea x fastigiata) visando selecionar plantas mais produtivas, com inflorescências mais prolíficas (maior número de vagens/inflorescência) ou de ciclo não tão longo quanto algumas variedades encontradas principalmente na subespécie hypogaea. Entretanto, os cultivares obtidos mantiveram suas características enquadradas em um grupo ou outro quanto ao hábito de crescimento e padrão de ramificação.

Ciclo
O amendoim cultivado é uma espécie anual e a duração do seu ciclo, da germinação à plena maturação, pode variar de 80-90 a 180 dias, dependendo do genótipo e das condições climáticas.

A duração do ciclo é um dos objetivos do melhoramento. Quando o objetivo é a precocidade, a variabilidade para tipos mais precoces é encontrada nos grupos Valência e Spanish. Em cultivares com arquitetura de planta do tipo Virginia, a variabilidade normalmente encontrada para a duração do ciclo é de 120 a 150 dias, dependendo da região.

Em amendoim, a seleção fenotípica para duração do ciclo é dificultada pelo fato de as vagens serem formadas abaixo da superfície do solo (e portanto não visualizadas) e porque na maturação, as plantas não apresentam pronunciada senescência, que seria um indicador de maturação. Aspectos fenológicos como número de dias para emergência, número de dias para o florescimento ou extensão do florescimento não exibem boas correlações com a precocidade. A melhor estratégia para seleção é efetuar a colheita antecipada das plantas e avaliar o grau de maturação das vagens após a colheita.

A duração do ciclo é considerada caráter quantitativo, condicionado por poucos genes. Cruzamentos que envolvem genitores amplamente divergentes apresentam alta herdabilidade no sentido amplo, mas é um caráter também influenciado pelo ambiente, especialmente quando a amplitude da variação entre os parentais não é grande.
Em São Paulo, onde o amendoim é plantado em grande parte nas áreas de renovação de canaviais, o ciclo muito longo de alguns cultivares rasteiros é limitante para o plantio nessas áreas. Nas condições climáticas deste estado, o ciclo de alguns cultivares, do plantio à colheita, fica em torno de 130 a 140, às vezes 150 dias. Em outros, o ciclo fica em torno de 130 dias, podendo, em alguns anos ser colhidos entre 125 e 130 dias. Esta diferença é relacionada com o maior ou menor grau de “determinação” de crescimento das plantas. Cultivares do tipo mais determinado praticamente cessam o seu crescimento vegetativo ao redor de 90-100 dias, utilizando as sua energias dali em diante exclusivamente para enchimento das vagens. Os de tipo indeterminado ainda apresentam crescimento vegetativo após esse período, podendo estender o tempo para plena maturação além de 140 dias. Esta variabilidade pode ser utilizada para obter cultivar com ciclo mais determinado.

A obtenção de cultivares rasteiros com ciclo curto, inferior a 120 dias, é uma possibilidade muito remota, a menos que se altere drasticamente a arquitetura da planta. É possível, por exemplo, selecionar plantas com ramos primários prostrados (rasteiros), mas com padrão sequencial nas gemas reprodutivas. Entretanto, as plantas não terão a massa de ramos adequada para enleiramento e colheita mecanizada, e não atingirão o patamar de produtividade de cultivares rasteiros.

COMO CITAR ESTE ARTIGO:

Godoy, I.J. Como são denominados os tipos de amendoim. Disponível em: www.infoamendoim.com.br/site/artigostecnicos