Classificação botânica
O amendoim, gênero Arachis, é nativo da América do Sul, e pertence à família Fabaceae (Leguminosae), tribo Aeschynomeneae, subtribo Stylosanthinae. Compreende mais de 80 espécies já identificadas e descritas. Algumas dessas espécies (como Arachis villosulicarpa e A. stenosperma) têm sido cultivadas por povos nativos, para uso das sementes como alimento. Outras (como Arachis pintoi e A. grabrata) são cultivadas para uso forrageiro. Entretanto, a espécie Arachis hypogaea é a única domesticada pelo homem ao longo do tempo, constituindo a base para o melhoramento genético e desenvolvimento de cultivares.
A taxonomia da espécie A. hypogaea é apresentada na Tabela abaixo.
(Fonte: Krapovickas, A.; Gregory, W. C. Taxonomy of the genus Arachis (Leguminosae). Bonplandia 8:1–186, 1994).
Tabela – Chave taxonômica do amendoim domesticado (Arachis hypogaea)
Subespécie | Variedade | Caracteres principais |
botânica | ||
hypogaea | hypogaea | Haste principal sem flores; ramos n+1 em geral procumbentes |
com alternância de gemas reprodutivas e vegetativas, de onde saem | ||
ramos n+2 (ramificação alternada); folíolos relativamente pequenos, | ||
com a superfície glabra e alguns pelos sobre a nervura central; | ||
frutos comumente com duas sementes; a cor do tegumento pode ser | ||
clara, vermelha ou variegada. | ||
hirsuta | Haste principal sem flores; ramificação alternada; ramos | |
podem ser eretos ou decumbentes; folhas de tamanho médio; foliolos | ||
com pelos longos (1-2 mm) na face inferior e dispersos por toda a | ||
superfície; frutos com até 3 sementes, de superfície fortemente | ||
reticulada | ||
fastigiata | fastigiata | Haste principal com flores; ramos n+1 com sequencias |
de gemas reprodutivas (ramificação sequencial); ramos | ||
n+1 esparssos e delgados; folíolos glabros ou com pelos | ||
somente na nervura central; frutos relativamente longos | ||
com mais de duas sementes; frutos com reticulação suave ou | ||
pouco marcada, com dorso sem saliências pronunciadas; sementes | ||
relativamente pequenas com tegumento vermelho ou claro. | ||
peruviana | Haste principal com flores; ramificação sequencial; haste | |
principal e ramos primários longos e robustos; folhas grandes; | ||
foliolos glabros ou com pelos somente na nervura central; frutos | ||
relativamente longos com mais de duas sementes; frutos | ||
com acentuada reticulação e com saliências dorsais | ||
pronunciadas; cor mais frequente do tegumento da semente: | ||
violácea a negra. | ||
aequatoriana | Haste principal com flores; ramificação sequencial; ramos longos; | |
ramos laterais decumbentes; folhas grandes; foliolos com pelos | ||
longos (1 a 2 mm) na face ventral e distribuidos por toda a | ||
superfície; frutos longos com mais de duas sementes; frutos | ||
com acentuada reticulação e com saliências dorsais | ||
pronunciadas; cor mais frequente do tegumento da semente: | ||
violácea. | ||
vulgaris | Haste principal com flores; ramificação sequencial; folíolos | |
glabros e de tamanho médio; frutificação concentrada na base | ||
da planta; inflorescências com múltiplas flores (e frutos) | ||
frutos pequenos, medianamente reticulados, comumente com | ||
duas sementes; cor mais frequente do tegumento da semente: | ||
clara. |
Nomenclatura agronômica e comercial
Todas essas variedades botânicas têm sido cultivadas pelos povos nativos da América do Sul de acordo com a sua distribuição geográfica e dispersão ao longo do continente. Entretanto, as variedades botânicas hypogea, fastigiata e vulgaris foram as mais disseminadas ao longo do tempo, tanto em seu continente de origem como em outras regiões do mundo, para cultivo, exploração comercial e melhoramento genético.
Essas variedades possuem genoma alotetraploide (2n = 40) e podem ser cruzadas facilmente entre si por hibridação manual. Os primeiros trabalhos de hibridação entre variedades de amendoim datam do início do século XX . Com a evolução do melhoramento, a caracterização e classificação botânica passaram a ser apenas uma referência científica, considerando que a maioria dos cultivares de maior expressão comercial descende de cruzamentos entre subespécies de A. hypogaea e, em alguns casos, de cruzamentos interespecíficos e, portanto, misturam os caracteres descritos na chave taxonômica.
Entretanto é comum, ainda hoje, desdobrar a diversidade morfológica entre cultivares de amendoim de acordo com alguns caracteres vegetativos e reprodutivos. Essa diversidade é descrita através de nomenclatura vulgar usada no meio agronômico e em relações comerciais, e tendo como referência a descrição taxonômica vista anteriormente. Dessa maneira, os cultivares podem ser classificados segundo os seguintes tipos:
Virginia: corresponde a plantas representantes da subespécie hypogaea, variedade hypogaea; agronomicamente, as plantas caracterizam-se pelo hábito de crescimento rasteiro (Virginia runner) ou arbustivo (Virginia bunch), este último com os ramos primários inclinados para cima conferindo à planta um perfil mais ou menos “esférico”; a arquitetura da planta é constituída por uma haste principal curta (para os rasteiros) ou pouco proeminente em relação em relação aos ramos primários (para os arbustivos), sem flores em ambos os casos, e por ramificação alternada (ramos primários contendo gemas reprodutivas alternadas com gemas vegetativas, de onde saem ramos secundários), formando uma ramificação relativamente profusa ou densa; cultivares do tipo Virginia possuem ciclo longo (de 130 a 150-160 dias, do plantio à colheita, nas condições do Sudeste brasileiro); em geral, produzem vagens preponderantemente com dois grãos de tamanho médio (conhecidos comercialmente como grãos tipo “runner”), ou grande de formato oblongo (conhecidos como grãos tipo “Virginia”) ou muito grande, de formato mais ou menos esférico ou achatado (conhecidos como grãos tipo “Jumbo”, ou “Cavalo”); os grãos podem apresentar película de cor acastanhada ou rosada (as mais comuns) ou vermelha ou variegada (tegumentos com duas cores).
Valência: corresponde a plantas representantes da subespécie fastigiata, variedade fastigiata; agronomicamente as plantas caracterizam-se pelo hábito de crescimento ereto, e a sua arquitetura é constituída por uma haste principal longa, ereta e proeminente, e por ramificação sequencial (ramos primários contendo sequencias de muitas gemas reprodutivas) e muito poucos ramos secundários, formando uma ramificação esparssa ou rala; cultivares do tipo Valência possuem ciclo curto (90 a 110 dias, no Sudeste brasileiro); em geral produzem vagens mais ou menos alongadas com predominância de 3 a 4 grãos (pequena proporção com dois grãos, e raramente com cinco); os grãos são de tamanho pequeno, de formato ligeiramente arredondado ou achatado; os grãos podem ter película de cor vermelha (mais comum) ou acastanhada, ou (mais raramente) de cor “vinho” escuro, quase preto.
Spanish: corresponde a plantas representantes da subespécie vulgaris; agronomicamente as plantas caracterizam-se pelo hábito de crescimento ereto, e a sua arquitetura é constituída de uma haste principal ereta, pouco proeminente em relação à altura dos ramos, e padrão de ramificação sequencial; apresentam poucos ramos secundários, mas o número de ramos primários tende a ser um pouco maior do que nas plantas do tipo Valência; embora todas as variedades produzam vagens a partir de inflorescências com várias gemas reprodutivas, uma característica importante dos tipos Spanish é a tendência para possuir inflorescências com múltiplas flores (e vagens), o que as torna potencialmente mais prolíficas do que as do tipo Valência; também apresentam ciclo curto, ligeiramente maior do que as plantas Valência (100 a 120 dias, no Sudeste brasileiro); produzem vagens curtas com predominância de dois grãos, de formato ligeiramente arredondado; os grãos têm película de cor acastanhada (mais comum) ou vermelha.
COMO CITAR ESTE ARTIGO:
Godoy, I.J. Como são denominados os tipos de amendoim. Disponível em: www.infoamendoim.com.br/saibasobreoamendoim