Introdução
O programa de melhoramento genético de amendoim do Instituto Agronômico (IAC) desenvolve cultivares que buscam atender tanto as demandas dos produtores como possuam qualidades que sejam de interesse para a indústria e para os consumidores (mercados de confeitaria e óleo comestível).
As principais regiões produtoras de amendoim no Brasil estão localizadas no estado de São Paulo e apresentam uma significativa diversidade em relação ao clima e características dos solos, influenciando o desempenho da cultura, e motivando a escolha das cultivares que melhor se adaptem a cada ambiente. Um outro aspecto que influencia a escolha da cultivar é a duração do seu ciclo. Atualmente as principais cultivares são de porte rasteiro e de ciclo mais longo do que as tradicionais de porte ereto. A cultura está bastante concentrada nas áreas de renovação da cana-de-açúcar e, em muitas dessas áreas, o ciclo do amendoim não pode exceder 130 dias; entretanto, há cultivares cujo crescimento vegetativo é mais indeterminado e têm ciclo mais longo (acima de 130 dias); estes exibem maior tolerância a estresses como estiagem e doenças da parte aérea. Em relação à qualidade, um dos aspectos que têm chamado a atenção do mercado de amendoim para confeitaria, e que também é de interesse para o mercado de óleos comestíveis, é o diferencial de qualidade dos amendoins conhecidos como “alto oleicos”. O ácido oleico é um ácido graxo monoinsaturado, componente do óleo contido nos grãos de amendoim, e é relacionado com a durabilidade do produto e a sua qualidade nutricional. Os ácidos graxos monoinsaturados conferem ao óleo uma maior estabilidade e resistência à oxi dação (rancificação). Assim, o produto (óleo ou o grão, in natura ou industrializado) pode ser armazenado por um tempo mais longo, sem perder as suas qualidades. A composição química do óleo de amendoim “alto oleico” é próxima do óleo de oliva, e a sua riqueza em ácidos monoinsaturados torna o produto interessante também no aspecto nutricional. Pesquisas revelam que dietas ricas em ácidos graxos monoinsaturados ajudam na redução de triglicérides e no aumento de HDL (o “bom” colesterol).
O programa IAC já tem disponíveis, para o mercado e para os produtores de amendoim, cultivares de padrão “alto oleico”, e que possuem características agronômicas que se diferenciam quanto ao seu comportamento e adaptabilidade aos diversos ambientes de produção que ocorrem no estado de São Paulo. A seguir são apresentadas as principais características agronômicas de cada um, bem como algumas recomendações de interesse para os produtores, visando à escolha do que melhor se ajuste à sua região e condições de produção.
IAC 503
Hábito de crescimento rasteiro, com moderada resistência a doenças foliares (mancha preta e ferrugem). Possui crescimento vegetativo acentuadamente indeterminado, com plantas vigorosas. Seu ciclo é longo, de 130 a 140 dias, podendo estender-se até 145 a 150 dias dependendo das condições climáticas do ano. A sua resistência e capacidade de estender o ciclo até a colheita, mantendo a sanidade e vigor vegetativo, conferem a esta cultivar uma maior estabilidade produtiva em relação a outros amendoins rasteiros, ou seja, seu desempenho produtivo destaca-se quando se considera a média de vários plantios. Sua produtividade média situa-se em 4.500 kg/ ha em casca e o seu potencial produtivo é de 6.500 kg ha . Os grãos contêm ao redor de 48% de óleo, com 70% a 80% de ácido oleico. Cultivares com “oleico normal” possuem óleo com 40% a 50% deste ácido. Mercado preferencial – confeitaria: grãos de formato alongado e de tamanho médio maior do que de outros do padrão “runner”; grãos predominantemente de calibres 38/42 a 40/50; especialmente indicado para elaboração de grãos blancheados (sem pele).
IAC 505
Hábito de crescimento rasteiro com moderada resistência a doenças foliares (mancha preta e ferrugem). Também possui crescimento vegetativo indeterminado e plantas vigorosas. Seu ciclo é de 130 a 140 dias, porém não se estende tanto quanto o da cultivar IAC 503.
Também se destaca pela estabilidade de produção, apresentando excelente desempenho produtivo na média de vários plantios. Sua produtividade média é de 4.500 kg ha com potencial para 6.000 kg ha . IAC 505 possui teor de óleo nos grãos um pouco acima dos de outras cultivares (49%-50%) e o teor de ácido oleico é de 70% a 80%. Mercado: os grãos são aptos para o mercado de confeitaria; devido ao seu maior teor de óleo, recomenda-se que o processo de torração não utilize torradores rotativos; o tamanho dos grãos é típico do padrão “runner”, com maior proporção de calibre 40/50 tamanho médio de grãos na faixa de outros runners, predominantemente de calibre 40/50. O diferenciado teor de óleo com alto teor de ácido oleico também tornam esta cultivar especialmente interessante para projetos focados na produção de óleo.
Recomendações:
IAC 503 e 505 são indicados para todas as regiões e sistemas de produção exceto as áreas de renovação da cana-de-açúcar onde há limitação para cultivares de ciclo que exceda 130 dias; a resistência dessas cultivares às doenças da parte aérea permite um planejamento de pulverizações com fungicida prevendo-se um menor número de aplicações durante o ciclo do que para cultivares suscetíveis.
IAC OL3
Hábito de crescimento rasteiro. Possui crescimento vegetativo mais rápido e mais determinado do que as cultivares anteriores, ou seja, uma vez formada a frutificação, as plantas praticamente cessam o seu crescimento vegetativo e priorizam o enchimento das vagens. Em consequência, o ciclo da cultivar é marcadamente mais próximo de 130 dias, podendo ser reduzido em alguns dias, dependendo das condições do ambiente. O ciclo, do plantio à colheita, varia geralmente entre 125 e 130 dias, fazendo com que esta cultivar seja a mais adequada para as áreas de renovação de cana-de-açúcar, onde o ciclo muito longo prejudica o cronograma de atividades de plantio da cana-de-açúcar.
Como esta cultivar tem ciclo mais determinado e é suscetível a doenças foliares, as plantas ficam mais vulneráveis a estresses, requerendo eficiente proteção com fungicidas. A média de produtividade esperada para esta cultivar é de 4.500 kg ha , mas o seu potencial produtivo pode ultrapassar 7.000 kg ha . Os grãos de IAC OL 3 são de formato que tende para arredondado, mas com tamanho médio um pouco maior do que outros do padrão “runner”, com predominância dos calibres 38/42 e 40/50. O teor de óleo é moderado (na escala de teores para amendoim), isto é, 46%-47% e os grãos também são “alto oleicos” (70-80%).
IAC OL4
Hábito de crescimento rasteiro. Apresenta características vegetativas semelhantes às da cultivar IAC OL 3, sendo também de crescimento e ciclo mais determinados (125-130 dias). Assim, esta cultivar também possui ciclo adequado para plantio na renovação da cana-de-açúcar. IAC OL 4 também é suscetível a doenças foliares, que devem ser controladas com fungicidas. A sua produtividade está no mesmo patamar do da cultivar IAC OL 3, média de produtividade de 4.500 kg ha em casca, e potencial produtivo que pode ultrapassar 7.000 kg ha.
Os grãos de IAC OL 4 são de formato arredondado, mas o tamanho médio é menor do que os grãos da IAC OL 3; na granulometria, produz proporções maiores de grãos 40/50, enquadrando-se, portanto, na faixa de maior demanda, no mercado de grãos tipo “runner”. O teor de óleo é moderado (ao redor de 47%), e também possui a característica “alto oleico” (70% a 80% deste ácido).
Recomendações:
IAC OL3 e IAC OL4 são indicadas para áreas onde o esquema de rotação com a cana-de-açúcar não permite exceder 130 dias; essas cultivares expressam o seu alto potencial produtivo mediante eficiente controle químico das doenças foliares e quando plantadas em solos calcareados e adequadamente adubados, não sendo recomendadas para regiões ou produtores que tenham limitações quanto a esses itens de manejo.
Apoio:
O programa IAC para desenvolvimento de cultivares de amendoim é apoiado pelas seguintes empresas da cadeia de produção: Balsamo – Indústria e Comércio de Doces, Brumau – Comércio de Óleos Vegetais Ltda., CAP Agroindustrial, Cooperativa CAMAP, Cooperativa Copercana, Cooperativa Coplana, Manduca – Exportadora e Importadora Ltda., MIAC – Máquinas e Implementos Agrícolas Colombo, Mars Brasil, Santa Helena Alimentos, Sementes Esperança.
COMO CITAR ESTE ARTIGO:
Godoy, I. J.; Santos, J.F.; Moraes, A.R.A.; Carvalho, C.L.; Bolonhezi, D.; Michelotto, M.D.; Finoto, E.L.; Martins, A.L.M.; Freitas, R.; Cavichioli, J.C. Cultivares de amendoim IAC Alto Oleicos. Disponível em: www.infoamendoim.com.br/artigostécnicos