Pragas de solo do amendoim

1 Introdução

O amendoim é atacado por numerosas pragas que causam danos desde alimentação acidental até total destruição da planta e perdas de produção. Segundo SMITH e BARFIELD (1982) o amendoim é atacado por mais de 360 espécies de insetos, em diferentes locais e anos de ocorrência.
No Brasil são citadas como pragas da cultura cerca de 20 espécies de insetos, atacando em alguma fase de desenvolvimento das plantas. Aqui serão abordadas as principais pragas que ocorrem principalmente na região centro-sul do Brasil, destacando os aspectos biológicos, caracterizando seus danos, as técnicas de amostragem e possíveis formas de controle.

  1. Percevejos castanhos

São descritas como espécies de percevejos castanhos atacando a cultura do amendoim duas espécies: Scaptocoris castanea Perty, 1830 e Atarsocoris brachiariae Becker, 1996 (Hemiptera: Cydnidae).
Tanto as formas jovens quanto as adultas têm habito subterrâneo, sugando a seiva das raízes das plantas do amendoim e de outras culturas. As formas jovens são de coloração branca, e os adultos de coloração marrom-clara, medindo aproximadamente 8 mm de comprimento (Figura 1).
A separação destas duas espécies é realizada através da coloração, sendo que S. castanea apresenta coloração marrom mais escura e tarso na parte mediana, enquanto que A. brachiariae não apresenta essa estrutura e coloração mais amarelada.
Ambas as espécies apresentam duas gerações anuais, sendo encontradas no solo durante o ano todo, com predominância de adultos quando existe excedente hídrico, e ovos e ninfas em período de deficiência hídrica.
Os adultos e ninfas ficam protegidos por uma câmara ovalada no interior do solo. O período de incubação é de aproximadamente 25 dias; as ninfas passam por cinco ínstares, sendo a duração do período ninfal de 150 dias. A longevidade dos adultos está em torno de 180 dias, tendo as fêmeas um período de oviposição médio de 90 dias. No período de excedente hídrico (dezembro a janeiro) ocorre maior concentração de ninfas e adultos na superfície (0-20 cm de profundidade), quando também acontecem revoadas de dispersão da espécie, o que favorece a aplicação de medidas preventivas de controle.
Ao escurecer, podem voar para outras localidades; os ovos são postos no solo. Esses percevejos são facilmente reconhecíveis no momento da abertura dos sulcos, pelo cheiro desagradável que exalam. Nas épocas mais secas, aprofundam-se no solo à procura de regiões mais úmidas e, durante as chuvas, retornam à superfície.

Prejuízos. Pela sucção contínua da seiva, as plantas definham, secam e morrem. Quando o ataque é intenso, pode ser necessário fazer um novo plantio. Em regiões onde seu ataque é comum, o controle deve ser preventivo

Figura 1. Adulto do percevejo castanho.

Fonte: Pirotta, M.Z.

  1. Percevejo preto – Cyrtomenus mirabilis (Perty, 1836) (Hemiptera: Cydnidae)

Descrição e biologia. Sua ocorrência tem aumentado nos últimos anos no estado de São Paulo. Inicialmente acreditava-se que sua ocorrência estava relacionada principalmente a solos de baixa fertilidade ocupados anteriormente por pastagens. No entanto, descobriu-se que sua ocorrência se dá também em solo argilosos, como os da região de Sertãozinho e Jaboticabal.
A exemplo dos percevejos castanhos, possui hábitos subterrâneos, sendo os adultos de coloração preta (Figura 2), medindo aproximadamente 7 mm de comprimento, e as formas jovens, de coloração esbranquiçada. As posturas são feitas no solo, a profundidades variáveis, conforme a umidade.
Monitoramentos através de armadilhas luminosas podem indicar se a área apresenta risco ao plantio do amendoim. No entanto, há necessidade de maiores estudos para a determinação dos níveis populacionais.

Prejuízos. Este percevejo também ataca as raízes assim como as espécies de percevejo castanho. No entanto, seu principal prejuízo está relacionado ao ataque em vagens na fase de desenvolvimento dos grãos, na qual ninfas e adultos inserem seus estiletes de seu aparelho bucal, atingindo os grãos em desenvolvimento. Ao se alimentarem dos grãos, os mesmos tornam-se manchados impróprios para comercialização (Figura 2).

Figura 2. Adulto do percevejo preto (esquerda) e grãos danificados pelo inseto (direita).

Fonte: Copercana

Controle dos percevejos. Em alguns locais a ocorrência dos percevejos tem sido alta e na tentativa de controle tem-se recomendado algumas alternativas: a) pulverização total da área com inseticidas, seguida de gradagem, antes do plantio: só teve algum efeito em áreas onde os percevejos estavam superficiais (só atinge 10 cm de profundidade); b) aplicação de inseticidas granulados no sulco de plantio: a eficiência não foi boa, especialmente quando a infestação foi muito alta; c) tratamento de sementes: não tem resolvido o problema. Importante salientar que o percevejo-preto atacam as vagens quando os grãos estão formados, mas ainda imaturos. Portanto,

  1. Lagarta da teia – Stylopalpia costalimai Almeida, 1960 (Lepidoptera: Pyralidae)

Descrição e biologia: A lagarta da teia tem o ovo amarelado, estriado e elíptico, colocado nas folhas e brácteas, de forma isolada. A lagarta tem 20 mm de 20 mm de comprimento com a coloração verde-acinzentada predominante, com listras longitudinais castanho-claras e com cabeça de coloração marrom-escura (Figura 3). O ciclo biológico é de aproximadamente 25 dias e postura média de 260 ovos/fêmea.
Sintomas de Ataque: As lagartas são encontradas em grande número sobre a mesma planta, alimentando-se com grande voracidade desde que nascem. Além disso, tem o hábito de construir abrigos individuais de teia e terra, no solo, próximo ao colo das plântulas de amendoim (Figura 3). Como muitas lagartas atacam uma mesma planta, forma-se um emaranhado de teia entre as hastes e a superfície do solo. Em decorrência do ataque as plantas ficam totalmente desfolhadas (Figura 3).

  1. Lagarta elasmo – Elasmopalpus lignosellus (Zeller, 1848) (Lepidoptera: Pyralidae)

Descrição e biologia: Os adultos da lagarta elasmo apresentam coloração diferente entre os sexos, sendo as fêmeas cinza escuras e os machos pardo amarelados (Figura 4). Os adultos têm em torno de 15 a 25 mm de envergadura, deslocam-se em vôos rápidos e curtos e, quando estão em repouso no solo, são confundidos com restos de culturas. Os ovos são de coloração verde-pálido e os mesmos são depositados isoladamente nas folhas e hastes das plantas e também no solo.
O estágio larval dura em média de 13-26 dias e as lagartas passam por seis ínstares. As lagartas são de coloração verde azulada, sendo a cabeça pequena e de coloração marrom escura. Quando completamente desenvolvidas medem até 15 mm de comprimento. Inicialmente, alimentam-se das folhas para, em seguida, localizar-se na parte inferior dos ramos, rente ao solo. Constroem casulos revestidos de solo e de restos culturais os quais ficam na entrada dos orifícios que fazem na planta e servem de refúgio. Ao termino da fase larval, transformam-se em pupas, próximo à base da planta no solo.

Figura 4. Adulto (esquerda) e lagarta-elasmo atacando a vagem (direita).

Fonte: http://www.defesavegetal.net/pragas

BERBERET et al. (1982) ao compararem a fecundidade de fêmeas da lagarta-elasmo em cultivares do grupo “spanish” e “runner” observaram que o número de ovos do grupo “spanish” foi significativamente maior que o observado no grupo “runner”, indicando a possibilidade da existência de algum mecanismo de resistência neste grupo.
Sintomas de Ataque: A lagarta perfura a região do coleto da planta e constrói galerias provocando amarelecimento, murcha e morte das plantas. O maior prejuízo se verifica quando as plantas são atacadas no início do seu desenvolvimento vegetativo, sendo esta a fase de maior suscetibilidade das culturas em geral. Ataques em vagens também são relatados (Figura 4).

  1. Lagarta rosca – Agrotis ipsilon (Hufnagel, 1767) (Lepidoptera: Noctuidae)

Características Gerais: Os adultos são mariposas de coloração pardo-escura a marrom, com algumas manchas escuras nas asas anteriores, sendo as asas posteriores semi-transparentes (Figura 5). Alcançam entre 30 a 40 mm de envergadura. As fêmeas realizam postura a noite, colocando de 600 a 1.000 ovos de coloração branca e formato globular no solo ou sobre a folhagem das plântulas. O período de incubação dos ovos é de cerca de cinco dias. As lagartas possuem são de coloração pardo acinzentada escuro, podendo alcançar de 45 mm no seu máximo desenvolvimento. São lagartas de hábito noturno e durante o dia ficam enroladas, abrigadas no solo. Apresentam a sutura epicranial na forma de Y invertido e possuem tubérculos pretos em cada segmento do seu corpo. A fase larval dura em torno de 28 dias, e ao final desta as lagartas se transformam em pupas. As pupas são de coloração marrom brilhante e geralmente se localizam no solo. O período pupal dura em torno de 15 dias.

Figura 5. Adulto (esquerda) e lagarta (direita)

Fonte: https://www.manejebem.com.br/doenca/praga-lagarta-rosca-agrotis-ipsilon

Sintomas de Ataque: As lagartas cortam as plântulas rentes ao solo, causando grandes falhas nos cultivos e redução no estande final da cultura. São insetos polífagos, capazes de atacar um grande número de plantas cultivadas.
Na cultivar IAC Tatu, as lagartas rosca e elasmo, quando em alta infestação provocaram redução no estande de plantas de até 46,3% e consequentemente redução na produtividade próximo de 50%, segundo Santos et al. (1984).

Controle das lagartas de solo: em regiões onde é comum seu aparecimento, pode-se realizar o controle preventivamente com tratamento de sementes com inseticidas. Em algumas situações é necessário ainda a aplicação de inseticidas com o jato do pulverizador dirigido para a base das plantas, logo após o aparecimento dos primeiros sintomas de ataque.

  1. Larva alfinete – Diabrotica speciosa (Germar, 1824) (Coleoptera: Chrysomelidae)

Características Gerais: Os adultos são pequenos besouros, chamados de brasileirinho, de coloração verde com seis manchas amarelas e cabeça castanha (Figura 6). Medem aproximadamente 6 milímetros de comprimento. As larvas são de coloração branco-leitosa e de formato afilado, medindo cerca de 10 milímetros de comprimento, quando completamente desenvolvida. As fêmeas ovipositam no solo e após sua eclosão movem-se para o sistema radicular do amendoim. O período de incubação dos ovos é de cerca de 8 dias. A fase larval dura em torno de 25 dias. Já os adultos duram em média de 31 dias para machos e 27 dias para fêmeas.

Sintomas de Ataque: Os adultos alimentam-se dos folíolos e quando em alta infestação podem ocasionar desfolhas significativas. Normalmente isto não acontece, em função das aplicações direcionadas às outras pragas, controlando-as indiretamente. Já as larvas causam danos às raízes e principalmente vagens em qualquer estágio de desenvolvimento. Recentemente tem sido relatado frequentemente o ataque desta praga danificando vagens

Figura 6. Adulto (esquerda) e larva-alfinete na palma-da-mão (direita).

Fonte: http://www.defesavegetal.net/pragas

Controle: Não há até o momento nenhum tipo de controle indicado para esta praga. Sabe-se, no entanto que, áreas com maior teor de matéria orgânica e plantio sobre áreas de milho e batata são mais propensas ao ataque deste inseto e, portanto merecem maior atenção.

COMO CITAR ESTE ARTIGO:

MICHELOTTO, M.D. Pragas do amendoim e seu controle – pragas de solo. Disponível em: https://www.infoamendoim.com.br/site/artigostecnicos/pragas-do-amendoim-e-seu-controle/